domingo, 22 de agosto de 2010
sábado, 21 de agosto de 2010
THE BIG MACHINE II - OST
The Big Machine II - EPÍLOGO
- Mas é o primeiro Natal sem o vovô, ele que gostava tanto de contar pra todos nós a história de Jesus Cristo, de como ele nasceu... – Maxine suspirou e abraçou a foto em seu colo – eu sempre me emocionava desde pequena, sem nem mesmo entender!
O Apocalipse Hall reluzia atrás dos dois, como uma tiara amarela feito ouro, coroando o jardim do Éden que era aquela chácara no meio das ruínas da velha Macapá.
- Veja pelo lado bom, estamos realizando um sonho do seu velho! – Fernando sacudiu Maxine de leve – ele sonhava que as nossas famílias passassem o Natal reunidas aqui na chácara, no palácio que eles planejaram há décadas atrás!
- É, tem razão, mas vou ficar inconformada pro resto da minha vida, nunca vou aceitar a morte dele, você não sabe o quanto era especial para mim, esse velho... – Maxine começou a chorar de novo. – queria que aquela maldita Alberta tivesse morrido! Morrido!
Fernando distribuiu beijos por todo o rosto da garota.
- Para com isso bebê, para. Você sabe que o seu velho não ia querer todo esse rancor no seu coração, e aliás, a Alberta já teve o que merecia, está congelada pra sempre no tempo, dentro de uma placa criogênica e ali vai ficar para toda a eternidade, nua, velha e careca para todo mundo ver, no meio da prisão...
- Ainda acho pouco pro que ela fez. Ela deveria ter morrido, deveria sim! – Maxine abraçou mais forte a foto do avô aos 17 anos.
- Você bem sabe que no nosso mundo de hoje em dia toda a pena de morte foi abolida por contrariar os direitos humanos!
- Eu sei, mas... – Maxine calou-se – tem razão, o importante é que ela teve o fim que merecia, aquela bruxa.
A noite era clara e límpida. As estrelas reluziam lá no alto, pouco visíveis por causa da atmosfera fraca daquele mundo açoitado pela poluição. O túmulo do velho Christopher Umbrella ali estava, suas cinzas ali jaziam dentro do vaso que enfeitava o mini santuário xintoísta construído em sua homenagem entre duas cerejeiras que graças à tecnologia avançada de manipulação genética, floresciam o ano inteiro, no canto mais isolado do Apocalipse Hall. Os dois fizeram menção para o pequeno templo e viraram de costas, tomando o caminho de pedra que levava de volta à mansão onde todos confraternizavam e relembravam o episódio fatídico de meses atrás. Muita coisa foi mudada no sistema após aquilo, a ESFERA reprogramou toda a sua segurança, seu sistema comercial e passou a fiscalizar com seus próprios “olhos” as empresas e seus braços correspondentes ao redor do mundo e na própria cidade. Em poucas palavras, passou a confiar menos nos humanos e alguns empregos foram perdidos por muitos funcionários, mas nada que não fosse resolvido em poucos meses.
Pra falar a verdade, o mundo não havia mudado muito para as pessoas de bom coração e para aquelas que seguiam as leis e prezavam pela ordem e pela paz na sociedade do futuro, onde há respeito de verdade aos direitos de todos. Vai demorar um pouco para que uma outra Alberta Veronese venha fazer uma gracinha. E vai demorar um pouco também para que certas coisas sejam explicadas. Alguns porquês vão ter que ser silenciados por enquanto, porque a história daquele novo futuro só havia começado.
Maxine conseguiu dar um pequeno sorriso após algum tempo, jamais iria se esquecer do robô gigante dançando Hip-Hop bem no centro da cidade após um verdadeiro apocalipse. Talvez a vida daqueles garotos era apenas uma estranha sucessão da vida dos seus avós, uma sequência exata de pequenos apocalipses, que de uma maneira ou outra, sempre irão fazer raiar um novo amanhecer, um novo dia. Um novo dia para o novo Apocalipse Club.
FIM
The Big Machine II - Parte Final!
Maxine pôs-se de pé cambaleando, o escudo dobrou de tamanho e recobriu-a feito uma verdadeira carapaça negra de um escaravelho. Alberta continuava avançando e lançando mais e mais raios em direção à garota. A armadura estava absorvendo toda aquela eletricidade. Aquilo era fisicamente possível? Alberta estava a meio passo quando foi atingida por um verdadeiro trovão que a lançou para fora do salão branco da ESFERA. Ela grasnou alto feito uma gaivota.
Imediatamente, a liga metálica escura entrou em simbiose com as curvas e as formas do corpo esbelto de Maxine, tornando-se para a garota uma segunda pele, uma nova chance de vida, uma segunda consciência. Foi tomada repentinamente por uma força de vontade e uma sede de batalha totalmente desconhecida a pacíficas garotas adolescentes como ela, em seu peito, um coração celta batia, e diante dela não havia mais escuridão alguma que não pudesse ser iluminada pelo brilho de uma espada. Milhares de anos escorrendo da armadura para dentro do seu corpo. Ela se sentia bradando um sabre enquanto corria pelos campos verdes e banhados de sangue das ilhas da Bretanha, em direção ao inimigo voraz e violento, que ali naquele momento e naquele século psicodélico e metamórfico era representado pela imagem de uma cowgirl biônica de 64 anos chamada Alberta Veronese.
- Vamos dançar!
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- Operação Resgate Apocalíptico, estão me ouvindo? CÂMBIO! – gritava a voz nos alto-falantes dentro da cabeça do robô, onde uma menina gordinha e meiga de cabelos azuis pilotava sem um pingo de nervosismo.
- Eu estou ouvindo, Tio Pietro, não sou surda! – gritou Tifa de volta. A voz nos alto-falantes limpou a garganta – ah, desculpe, CÂMBIO SAMURAI NEGRO!
Outra voz gargalhou, dessa vez a gargalhada veio de cima.
- Dá pra se concentrar e ser um pouco mais profissional Miguel?! Estamos indo salvar o seu irmão!
- É que esse lance de codinome é muito ridículo! Que coisa mais ancestral!
- Ora, cale a boca Cebolinha Nº 2! – gritou a voz nos alto-falantes. Miguel se calou.
- Porque somos Cebolas? Poderíamos ser tomates, ou mesmo berinjelas! Porque cebolas?! – reclamava o garoto.
- Porque não temos tempo pra perder escolhendo codinomes, vocês já estão a meio caminho da cidade! – começou Pietro – Miguel! Você está encabeçando o compartimento remoto que pode ser deslocado do corpo principal do robô com um simples toque no campo amarelo na tela de touch-screen diante de você! Ele transforma-se numa mini-nave imediatamente, mas por enquanto trate de manter as suas mãos no colo para não se exaltar e fazer besteiras. TIFA!
- SOU EU! – riu a garotinha. – SOU EU!
- SIM, é você! Você é o cérebro da máquina, diante de você há três telas holográficas de onde você controla todo o sistema bélico do robô! Jamais toque nos fios que estão conectados ao capacete na sua cabeça, nas luvas e nas botas que você está usando! Eles controlam os movimentos do robô, por isso nada de gracinhas!
- Posso dançar hip-hop?!
- Nem pensar!
- Ah! Por favor!
- Quem sabe depois que sairmos dessa! – o velho Pietro gargalhou e continuou com as instruções – caso você queira voar, digite o código A5A-D3L7A na tela diante de você, duas asas vão se abrir e você vai parecer uma versão preta gigantesca do Buzz Lightyear!
- Agora é com vocês!
Nem bem a voz sumiu, Tifa atacou os controles, e em menos de trinta segundos o robô cruzava os céus do deserto em alta velocidade, espantando as criaturas que ali viviam nas ruínas e fazendo a poeira quente subir em nuvens amarelas, brancas e alaranjadas. Juntas vistas de longe, mais pareciam uma tempestade de areia mortal. Como um supersônico voando baixo, Tifa só acelerava em direção ao vulto negro da cidade de neon contra o céu azul rasgado pelas bombas das guerras, ignorando os gritos de um desesperado Miguel que pedia socorro enquanto chamava pela mãe e a xingava de louca. Não, Tifa estava pouco ligando, estava gargalhando alto, se divertindo à beça com toda aquela adrenalina, se sentindo poderosa e invencível, armada até os dentes, nem o muro intransponível de Neon City pararia a fúria do poder feminino da gordinha de madeixas azuis. Ela podia sentir o poder nas mãos dela. E era incrível.
- Esperem por nós, meninos, Max, Gabi e Nando, nós estamos chegando! – e mais gargalhadas. Tifa estava em surto.
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Uma espada brotou da mão da garota, manifestando-se a partir da armadura, e com um grito de guerra, ela partiu em direção à mulher ajoelhada de costas que levantava-se com dificuldade. Foi rápido demais para que os olhos de Maxine pudessem ver. Imediatamente a armadura eletrônica de Alberta Veronese entrou em modo de batalha, transformando-se esteticamente por completo num tipo de armadura romana de antes de Cristo, com direito a capacete, escudo e espada. A peculiaridade agora era que ela parecia bem mais jovial e mais robótica do que era antes, coberta dos pés à cabeça por titânio reluzente e carregado de eletricidade. A cada encontro dos metais furiosos das armaduras, dos escudos e das espadas pertencentes às duas ferozes mulheres de garra e coragem, trovoadas e relâmpagos inundavam o salão enchendo a atmosfera com uma tempestade artificial causada pelo embate de duas verdadeiras deusas da guerra. Como se séculos e mais séculos estivessem se repetindo num futuro não tão distante em que máquina e homem caminham lado a lado como iguais, e que raça, cor e classe social não sofrem diferenciação perante as leis dos homens, das máquinas e de Deus. Num mundo tão diferente, a mesma cena se repete como há milênios atrás. Uma verdadeira luta de gladiadoras sanguinárias nas areias banhadas pela morte do Coliseu de Roma. Agora transferidas para uma época diferente, para um lugar diferente, para um mundo diferente. Armadas e poderosas com todos os artifícios que a tecnologia poderia lhes proporcionar.
- Você acha que vai sair viva dessa, Maxine Fernandes?! Nem seu avô sobreviveu à minha vingança! – gargalhou a velhaca diabólica. Maxine desconcentrou-se e levou um golpe na cabeça, indo parar a metros de distância da mulher que correu feito um animal bradando agora uma clava em sua direção. A garota rolou para longe o mais rápido que pôde, e então a clava acertou o chão levantando cacos de azulejo, pedra e poeira formando uma cratera. Descargas elétricas atingiram as paredes com violência.
- Do que você está falando?! – foi a vez de Max atacar com uma cotovelada na nuca da vilã que cuspiu poças de sangue cambaleando até a parede no escuro, gargalhando em meio à dor.
- Seu avô! Christopher Umbrella, aquela bichona metida a intelectual! ESTÁ MORTO!
O peito de Maxine inflou e queimou em cólera e fúria, um rosnado formou-se ali dentro e ela urrou feito uma leoa feroz. Jamais sairia dali sem ver a cabeça da maldita Alberta-Homem rolando pelo chão, ensaguentando todo o salão branco. Poderia humilhar e xingar quem quer que fosse, mas que JAMAIS mexesse com alguém da sua família. A família era o berço da criação, era o que a jovem Maxine mais prezava acima de tudo, a família. E o seu avô era aquele que ela mais amava em todo o mundo. Alberta Veronese havia tocado no ponto mais fraco de Maxine. Aquilo renderia uma batalha ainda mais interessante e sangrenta.
Um chute banhado à sangue e lágrimas lançou a velha Alberta aos ares, um pulo de gato alçou Max para o alto e um golpe de espada fez Alberta descer ao chão feito um meteoro, abrindo uma cratera maior ainda no meio do salão, perigosamente próxima ao ovo branco de brilho espectral azul.
- JAMAIS, JAMAIS FALE O NOME DO MEU AVÔ DE NOVO, SUA VELHA IMUNDA! VOCÊ NÃO TEM O DIREITO! VOCÊ NÃO O CONHECE! – ergueu-a e lançou-a ao alto outra vez. De lá, a velha Alberta lançou uma descarga elétrica tão poderosa que poderia ter deixado Maxine desacordada, mas não, a Witchblade estava protegendo-a, ela não era mais uma mera mortal, era a guerreira celta do novo milênio, era Maxine Fernandes.
- Conheço-o o bastante para saber que ele não valia nada, assim como eu, assim como você! Sua pivete miserável! E agora ele está morto, MORTO! Não sobreviveu aos ferimentos e chegou à delegacia MORTO, e ainda está lá, com seu pai e sua mãe do lado! – Alberta gargalhou, maléfica como nunca – os pobrezinhos ainda acham que ele vai acordar! BANDO DE IMBECIS! IMBECIS!
Maxine rugiu feito um animal selvagem e voou em direção à mulher que esquivou-se. A jovem abriu um buraco na parede, e de lá tomou impulso em meio à poeira. Sua espada triplicou de tamanho tornando-se um verdadeiro sabre. Alberta ainda gargalhava quando a arma atingiu o titânio da sua armadura romana biônica e por pouco não arrancou seu braço. A íris dos olhos de Maxine estavam vermelhas.
- Mas como isso é possível?! – resmungou a velha Alberta, sentindo o ferimento profundo que haviam lhe infligido.
- Esse metal não é da terra, o metal da minha armadura – Maxine pousou feito uma garça negra, tomada agora totalmente pelo espírito de guerra que possuía a Witchblade. – mas não cabe a você saber mais sobre ela, sua mortal indigna! Acha que esse titânio enriquecido que Maurice Lispector te deu vai te salvar de mim?! NUNCA! Saiba que a esta altura o mundo que Maurice Lispector regia com a sua The Big Machine desapareceu do cosmos, porque era uma realidade alternativa errada, as equações que levavam a ela estavam erradas! Christopher Umbrella e seus companheiros o derrotaram naquele mundo viajando através do tempo e do espaço, assim como a neta dele e seus amigos a derrotarão aqui nesse, sua bruxa imunda e encarquilhada!
- NUNCA! – Alberta Veronese lançou-se até a jovem, mas foi repelida por uma estranha força. Maxine gargalhou, já não era mais Maxine.
Não a mate!
Disse a voz.
Não a mate! Não deixe que a manopla celta domine sobre a sua humanidade, Maxine Fernandes! Não se iguale a ela! Não se iguale a Alberta!
A íris dos olhos de Maxine voltou a cor normal, e ela caiu de joelhos. Desacordada.
- Chegou a minha vez! – Alberta encheu o peito com o último resquício de suas forças. A armadura de titânio sobrecarregada e enriquecida estava enfraquecendo, o metal estava endurecendo, era hora de dar um ponto final àquele joguinho de criança, era hora de tirar aquele homem de dentro do ovo e assumir o lugar dele. Era hora de dominar o mundo. Mas não antes sem acabar com a vida daquela garota, agora indefesa e desacordada. Era hora do golpe mais baixo e mais mortal de todos, o futuro daquele mundo estava nas suas mãos. Ela ergueu sua clava, rodando-a no ar enquanto fagulhas azuis dela escapavam. – Chegou a hora de se juntar ao seu avô! Maxine Fernandes!
Foi então que algo inesperado aconteceu, algo que fez Alberta parar o que estava fazendo para olhar para o alto e se deparar com um teto que rachava aos poucos, como se cavoucado por cima por algo relativamente grande e rápido. Foi então que uma broca surgiu, uma broca de diamante puro, mais poderosa e mais forte que qualquer metal terrestre. Pois é sabido que para arranhar um diamante, só outro diamante. A broca então foi seguida de um braço mecânico negro gigantesco, e após isso outro braço mecânico enorme surgiu forçando a abertura do buraco. A esta altura, todo o salão estava repleto de escombro e poeira. Foi quando um enorme robô desceu com tudo, caindo com um estrondo tremendo e gigantesco que fez rachar tudo ao redor.
- Nossa, nossa! Puxa, puxa vida! – ria uma voz animada vinda de dentro da máquina – nunca poderia imaginar que a sala de controle central da ESFERA ficasse bem debaixo da escola! Que máximo! Nós andamos sobre a ESFERA todo esse tempo! Quer dizer, estava a milhares de metros de profundidade, mas ainda assim...
- MAS O QUE SIGNIFICA ISSO?! – gritou Alberta. Tifa se assustou dentro da máquina e imediatamente entrou em modo de batalha, transformando seus braços em dois potentes canhões atômicos.
- AH! ALBERTA VERONESE! – as armas estavam apontadas para ela – VIEMOS ACABAR COM VOCÊ, SUA MEGERA! – rugiu a voz feminina de dentro do imponente robô negro. – SOLTE MEUS AMIGOS E PERMITIREMOS QUE VOCÊ VIVA!
- É ISSO AÍ! – disse uma segunda voz masculina, vinda também de dentro do robô.
- Mas que diabos... – Alberta não terminou a frase, foi capturada por um braço extra do robô, totalmente revestido de borracha, como se feito para capturá-la e impedir as descargas elétricas. Foi naquele exato momento em que o mundo de Maurice Lispector virou um vazio eterno, e então tudo o que ele havia criado naquela realidade tornou-se nada e desapareceu como se nunca tivesse existido. Para desespero de Alberta Veronese, sua armadura estava incluída nesse meio cujo fim foi repentino e surpreendente. – OH MEU DEUS! EU ESTOU NUA!
As vozes dentro da máquina gargalharam.
- OLHA SÓ MIGUEL! ELA É CARECA! ELA É CARECA! – ria Tifa.
- AI NÃO! AI NÃO! MINHA PERUCA! MINHA PERUCA! – Alberta levou as mãos à cabeça lisa e branca, toda enrugada. Jamais havia passado por tal humilhação tremenda. Os cabelos loiros e encaracolados da boiadeira Alberta estavam perdidos agora entre os escombros ali embaixo. – MINHA LINDA PERUCA! NÃO! NÃO!
A luz do sol entrava fraca pelas falhas do teto. Lá na superfície era meio dia.
Fernando e Gabrielle entraram no salão carregando as velhas de guerra, Ray e Elly, abatidas e cansadas pelo esforço que fizeram. Maxine acordara então de um pesadelo para um sonho, um sonho de final cômico e inesperado onde uma velha cruel e maligna se balançava pra lá e pra cá num cipó de borracha completamente nua e careca. Os amigos se abraçaram às lágrimas, aliviados e cobertos por uma paz tremenda, felizes por terem sobrevivido às duras penas sem amargar o futuro. Estavam reunidos, iluminados pelos resquícios dos raios de sol de um meio dia confuso e aéreo para pessoas que percorriam as ruas apagadas da cidade de neon, completamente parada no tempo por um blackout como nenhum outro. Foi então que doze horas em estado de animação suspensa foram cumpridas, e o ligamento automático do sistema mundial foi acionado. A ESFERA entrou em ação novamente...
(...)
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
The Big Machine II - Penúltima Parte!
- Não, Don! Não faça isso! Há pessoas lá fora, nas ruas, gente como nós, gente como você! – gritava Ray Ann, arrastando-se em direção à Maxine – vamos Max! Vamos! Insira o disco no drive agora e desative o modo de defesa!
- Eu confiei demais nos humanos, meninas, eu sempre confiei demais em todos eles, sempre fui o bonzinho, o prestativo, o amável, o sempre solitário e incompreendido Don Hills... – disse a voz mecânica – agora eu não sou mais tão sozinho assim, tenho milhares de cérebros com que posso conversar, todos formando um só, e eles estão me dizendo o óbvio, o meu lado máquina chegou ao cálculo final com relação aos seres humanos: o que um fizer, os outros farão, eles são como o gado, como as ovelhas, seguindo a cabeça do rebanho... – a voz parecia revoltada, e ao mesmo tempo triste e chorosa – e no momento... a cabeça desse rebanho é Alberta Veronese, se ela o fez, se ela tentou contra a segurança do sistema social perfeito que eu criei, outros como ela virão, é sempre assim...
- Mas e o seu lado humano?! Onde ele está, Don?! – perguntava Ray, indignada – onde está o perdão, a chance?! Todos merecemos uma chance! Até Alberta!
- Não generalize a todos nós, por favor, ESFERA! – implorava Maxine, tirando o colar do pescoço, levantando-se com dificuldade e caminhando a passos pesados e lentos até o grande ovo branco. A gravidade no salão fora alterada pelo sistema de segurança, ali era como se ela pesasse aproximadamente duzentos quilos, a velha Ray Ann não podia sequer se mexer, estava prensada pela atmosfera ao chão. Mas a brava e heróica, ou talvez somente desesperada e inconseqüente Maxine, mesmo sentindo os estalos e as falhas nas pernas e na coluna, continuava a seguir em frente, atenta à entrada do drive.
- Eu sei, eu sei que não posso generalizar – disse a ESFERA – mas não é somente a minha segurança, é a segurança do mundo inteiro!
Lá fora, prédios tornavam-se blocos cinza, placas de metal e grades desciam sobre todas as janelas, trancando as pessoas em suas casas, parando elevadores, desligando carros e acionando todos os sistemas de segurança ao redor do mundo. Luzes vermelhas serpenteavam a sulcos ocultos nas calçadas, no asfalto e nas construções feito cobras furiosas, o que visto do alto aparentava ser o curto circuito da placa-mãe de algum computador. Para o desespero de Maxine, ela percebeu que o seu pen drive triangular se encaixava exatamente na testa do homem preso dentro do ovo branco. Como ela faria isso?! Estava tão próxima do recipiente que continha a parte humana da ESFERA que podia ouvir o pulsar de um coração e as engrenagens de uma máquina batendo e girando ao mesmo tempo. Para sua surpresa, sua mão atravessou o vidro, e ela pôde sentir a verdadeira natureza da capa protetora do líquido amniótico que continha Don Hills preso durante anos fazendo eternos cálculos: algo puramente gelatinoso, exatamente como uma placenta de ventre materno.
Ela soltou o pingente triangular que brilhou dando uma cor verde ao ovo, e automaticamente, flutuou até a sua entrada na testa do homem-máquina, encaixando-se ali perfeitamente, de cabeça para baixo, exatamente como ficara durante todo esse tempo pendurado num colar no pescoço da adolescente. O peso do mundo ao redor da garota mudou, a atmosfera voltou a sua gravidade original. Ray Ann gritou de alívio. Os sulcos nas paredes e no resto do mundo tornaram-se verdes, piscaram três vezes acompanhados da nota musical Dó e apagaram, desligando todo o planeta, levando a humanidade a um blackout generalizado como há tempo não havia.
No silêncio da escuridão, o brilho do azul do ovo branco era a única luz. A voz da ESFERA havia silenciado. A fantasmagórica porta às costas de Maxine abriram-se, revelando o espectro apavorante de uma perigosa mulher usando chapéu de caubói que tinha sede de sangue nos olhos. Toda a sua armadura de titânio puro era percorrida por impulsos elétricos que faziam-na cintilar feito um vagalume no escuro. A cada passo dado por uma Alberta Veronese bufando de ódio, sua armadura descarregava no ambiente, iluminando todo o salão com raios artificiais.
- Agora é a minha vez! – ela ergueu os braços em direção à garota e espalmou suas mãos, revelando dois prismas de algum tipo desconhecido de cristal que reluziu e lançou a mais poderosa descarga elétrica que a sua armadura eletrônica super carregada poderia lançar. Maxine sentiu o aperto no peito, a sua hora enfim havia chegado. O que ela pôde fazer foi usar os braços em forma de X para proteger o rosto, e para seu espanto, ela não sentiu um arranhão sequer após 30 segundos de choque poderoso. Ao abrir os olhos, deparou-se com misterioso escudo de, liga metálica escura exatamente na altura e no formato do seu corpo. Ele surgira como se tivesse brotado do seu braço, crescido da sua manopla como um vegetal furioso e consciente. Demorou um pouco para dar-se conta de que estava viva, e demorou um pouco para ela perceber que aquele escuro era a primeira manifestação da poderosa Witchblade em suas mãos.
Enquanto isso, três famílias inteiras estavam reunidas, refugiadas no Apocalipse Hall, sentados, mas nervosos, corações descompassados. Exilados e refugiados no interior dos jardins sem fim da única mansão sobrevivente à hecatombe das eras, existente até os dias atuais sob os cuidados minuciosos de seu dono e proprietário Pietro Einrich e seu fiel caseiro Ezequiel-san. Pela primeira vez, o Apocalipse Club estava reunido por completo, exceto por Ray Ann que ficara para trás, para impedir a entrada de Alberta na central da ESFERA com a ajuda de Elly Rich, afinal, as duas foram encarregadas de cuidar da segurança da central quando a cidade fora fundada. Augusta Montgomery, Fábia Paola, Pietro e um fraco e abatido Christopher Umbrella sentado numa cadeira de rodas enquanto se recuperava da surra que havia levado de Alberta. Reunidos numa sala dentro da mansão enquanto os pais sem os filhos choravam lá fora, o futuro da grande luta estava sendo decidido entre avós e netos.
- Eu estou suando feito uma porca, vovó! Eu não aguento! Eu não aturo mais isso! Estou mais do que apreensiva! – todo o penteado de Tifa fora pelos ares, seu liso cabelo azul agora era um verdadeiro fuá da cor do céu. Uma peculiaridade entre Fábia e sua netinha era a capacidade instantânea das duas ficarem vermelhas e suadas quando estavam nervosas, uma era a cópia perfeita da outra, Tifa tinha saído da mãe como um clone, era a réplica perfeita da avó na juventude: baixinha, gordinha, engraçadinha e, às vezes, vermelha e descabelada.
- Pelo amor de Deus, minha filha, calma! Eles estão bem, estão bem! Veja que o nosso alarme ainda não soou, a Ray disse que nos avisaria se por um acaso algo saísse errado... Estamos conectados direto à ESFERA daqui!
- É, mas a maldita ESFERA desligou! O sistema está fora do ar e agora estamos sem energia elétrica! – exclamava Miguel, chutando uma poltrona com toda a força.
- Ei, ei, ei! Pode ir chutar o saco do seu avô, garoto! – bradou Pietro, sacudindo sua bengala – aqui não é a casa da mãe Joana e esses móveis foram caros!
- Ei digo eu! – exclamou o marido de Ray Ann, avô de Fernando e Miguel que até o momento permanecera sentado e calado – eu ainda vou precisar disso aqui, tá maluco?!
- Não sei pra quê! – gargalhou Christopher, levantando o brilhante Disco Stick – tá velho que nem um matusalém! Isso aí deve tá mais caído que a minha retaguarda!
Fábia deu aquela gargalhada cacarejada que ela costumava dar, agora pior do que nunca, já que estava velha e suas cordas vocais não eram as mesmas de antes.
- Parem com isso, parem! – Miguel já lagrimava. Era incrível como ele era explosivo e imprevisível como a avó! Até o rosto enfurecido parecia o mesmo – meu irmão tá lá, gente! Meu irmão e os netos de vocês estão lá! Vocês não estão nem um pouco preocupados?! Duas mães lá fora tiveram de ser sedadas porque queriam subir num veículo qualquer e rumar para a cidade a todo custo, e meu pai quase teve um infarto! E vocês estão aqui rindo?!
Os velhos se entreolharam.
- Vai, Pietro, leva esse moleque lá nos fundos! Acho melhor tranquilizar ele antes que ele quebre todos os móveis! – grasnou vovó Augusta, tossindo entre as palavras porque estava fumando feito uma chaminé de tão nervosa que estava, soprando tudo na saída de ar pra não deixar o ambiente fedendo. Não estava adiantando muito.
Miguel se pôs em modo de defesa no mesmo instante, mostrando os punhos e arqueando os ombros pra frente como um lutador de Box.
- Não vem não, negão! Eu te derrubo no chão já, já!
Pietro semicerrou os olhos, ergueu o rapaz pelo cangote e saiu carregando ele para fora da sala enquanto ele gritava.
- Vem, Tifa, vamos, tenho uma coisa pra te mostrar também – fez Pietro. Fábia fez que sim com a cabeça e deu um beijo na testinha da neta, indicando a ela o caminho. Naquele momento ela soube que estava em segurança.
E assim que os três entraram na área da piscina coberta de águas termais ao estilo oriental, Pietro deu-lhe um tapa num botão vermelho oculto atrás de um quadro. Imediatamente, a piscina interna esvaziou e seu piso de azulejos azuis abriu, para espanto e desespero dos dois adolescentes, elevando uma plataforma colossal aonde um enorme robô de batalha descansava em estado de animação suspensa. Primeiro Miguel pensou que fosse ser jogado em algum tipo de fosso pra onde iam as crianças mal educadas, mas parou de debater-se no ar feito um peixe retirado da rede assim que percebeu que uma arma poderosíssima de guerra estava diante dele, cintilando e lhe sorrindo. A adrenalina subiu na veia.
- Eis aqui a arma de vocês, seus apressadinhos... – gargalhou Pietro, soltando Miguel que caiu sentando com um baque surdo no chão. Tifa soltou um guincho que pareceu aos ouvidos alheios uma risadinha de menina e começou a bater palminhas de animação.
terça-feira, 10 de agosto de 2010
The Big Machine II - Parte 12!
O que aconteceu a seguir foi tão rápido que Maxine mal pôde piscar. Primeiro Robert foi ao chão, atingido por alguma coisa que veio do vazio, e depois foi vez de Alberta cair por terra, mas este golpe ela pôde ver muito bem. Algo como um taco de metal havia batido contra a cabeça da velha, e ela caiu de cara no chão.
- Ai meu Deus! Acho que bati com muita força, Ray! – exclamou a doce voz de senhora frágil e nervosa de algum lugar no escuro onde antes haviam lâmpadas acesas, aquelas que foram estouradas por uma Gabrielle nervosa. – será que o sapatão morreu?!
- É claro que não Elly, eu tenho certeza de que ela vai acordar furiosa em pouco tempo! Acho melhor amarrarmos ela! – das sombras surgiu uma velha baixinha, magra e toda turrona, não parecia tão nervosa quanto a outra, mas bem decidida, tinha uma única mecha de cabelos grisalhos misturada aos cachos escuros que iam tão longos até o meio das suas costas. Usava o mesmo uniforme branco brilhante que Maxine e seus amigos, aliás, as duas velhinhas usavam. A outra que se revelara depois tinha os olhos claros, quase cinzas, como a água de uma montanha. Esta tinha o cabelo completamente grisalho e parecia muito mais frágil que a outra. Ray Ann e Elly Rich, como Maxine poderia esquecer das duas?! Uma era a avó de Fernando e Miguel, melhor amiga do seu avô e a outra a melhor amiga dela. Eram uma dupla dinâmica e não se separavam por nada naquele mundo.
- Vamos Maxine, não temos tempo! – após acorrentar bem aos dois vilões, Ray Ann tomou a jovem pelo braço.
- Mas... A Gabi e o Fernando... – começou ela, assustada, resistindo aos puxões que a mulher dava.
- Eles vão ficar bem! Os dois aí já estão amarrados e seguros, e a Elly vai cuidar de reparar a entrada.
Os olhos de Max voltaram-se para a velhinha branca como neve, usando uma roupa tão branca quanto ela própria. A senhora ajeitou os óculos no rosto e deu tchauzinho. Maxine engoliu em seco. Aquela mulher jamais daria conta se Alberta despertasse e quisesse explodir com tudo, a velha era tão frágil, parecia mais aquelas senhoras que ficam sentadas na varanda enquanto o bolo de cenoura assa, contando histórias para os netos.
- Mas porque estamos sem tempo?! Já impedimos a entrada da Alberta! – reclamou a garota, sendo praticamente arrastada.
- Você tem o driver do programa de proteção da ESFERA!
- Ei ei ei ei! – ela desvencilhou-se das unhas compridas da velha com violência, causando alguns arranhões em seu braço direito. – Eu não tenho nada disso não! E nem pretendo ir adiante! – Max estava tremendo de medo, estava completamente sem palavras, não conseguia sequer imaginar o que encontraria do outro lado daquela porta triangular que se iluminou completamente ao sentir a aproximação de corpos materiais. Ela tinha sensores de seres vivos. Aquilo só deixava Maxine mais apavorada. – Eu só vim aqui acabar com os planos da maluca da Alberta e ir pra casa! Neon City já está a salvo!
- Não, Neon City não estará a salvo enquanto você não pegar esse pen drive que está no seu pescoço e conectar no cérebro central da ESFERA! – exclamou a velha, apontando para a porta iluminada como o portão do céu. Era espectral naquela escuridão.
- Mas do que você está falando?! Esse pen drive foi presente do meu avô! Não tem nada de ESFERA nele, é um pen drive comum, veja! – ela tirou do pescoço, tremendo, mostrando o pingente para a mulher – você deve estar confundindo ele com...
- Eu não estou confundindo garota! Não temos tempo! O sistema de defesa da ESFERA foi acionado, e se não fizermos alguma coisa AGORA MESMO a cidade vai acionar o estado de emergência e todos os cidadãos ficarão reféns das máquinas, ESTÁ ENTENDENDO O QUE EU ESTOU DIZENDO? – Ray Ann já gritava de desespero – esse pen drive foi dado ao seu avô quando Neon City foi oficialmente fundada, ele prometeu guardá-lo em segurança até que chegasse o dia em que precisaríamos dele! A ESFERA tem um sistema de defesa automático que fica ativo no exato momento em que ele detecta qualquer tipo de ataque, físico ou virtual, tanto uma guerra nuclear quanto um super vírus ativa o programa de proteção da ESFERA. Ele transforma a cidade numa grande fortaleza e prende as pessoas nas suas casas para a própria segurança, e se não fizermos algo imediatamente, todos os cidadãos dessa cidade ficarão reféns das máquinas, está me entendendo, Maxine?!
Maxine estava em estado de choque. Deu uma última olhada pra trás antes de ser iluminada completamente por um feixe de luz tão forte que quase a cegou. A porta triangular espectral fora aberta enfim, e aos poucos a velha turrona a arrastava para o que parecia mais o além, ou talvez a entrada do céu, do mundo dos mortos, ou qualquer outra coisa do gênero que desvencilhasse-a do mundo humano mundano. Quando ela achou que aquela luz nunca mais iria se apagar, percebeu que não era uma luz, e sim a cor daquele salão. Daquele salão enorme e quadrado que mais parecia um fosso de paredes altas. Tão altas que o teto parecia invisível a olho nu. Apesar do tamanho daquele salão, o universo que ele continha parecia tão íntimo e particular e ao mesmo tempo tão aconchegante e convidativo, sem toda a poluição visual e sonora do mundo aerodinâmico e futurístico lá fora que logo Maxine sentiu-se tão à vontade como se estivesse na própria sala da sua casa. Era um universo completamente minimalista e simples, totalmente ao contrário do que ela imaginara ser o tão temido cérebro da ESFERA: um emaranhado de cabos, fios e placas de computador, braços mecânicos e faíscas voando por toda parte, aquela bagunça que era o mundo que ela conhecia.
- Sinta-se em casa, Maxine – disse uma voz vinda das paredes. Flashes de luz azul percorreram os veios e os sulcos que formavam caminhos imperceptíveis nas paredes com o pulsar daquela voz mecânica. As serpentes azuis escorreram como água por entre eles até alcançarem cabos de alimentação que ligavam aquele mundo branco a um ovo, sim, um grande ovo que flutuava no meio do salão.
- Quem está aí?! – foi o que Max conseguiu dizer. Estava nervosa demais para dizer algo de inteligente ou menos clichê naquele momento.
- Isso vai parecer tão clichê quanto a sua pergunta, Max, minha cara, mas eu... – a voz elétrica riu, e sua risada era um barulho distorcido como mãos batendo nas teclas de um sintetizador – eu sou a ESFERA.
Maxine parou a meio caminho do ovo branco, que alimentado pelos cabos transparentes, agora azuis pela energia que os atravessava, foi girando vagarosamente até revelar, para seu espanto, um homem. Um homem magro e esbelto preso dentro dele, flutuando numa espécie de placenta azul, com vários pequenos cabos conectados à sua coluna e principalmente ao seu cérebro, à sua cabeça completamente raspada. Uma máscara de oxigênio alimentava sua respiração e uma agulha injetada na parte de trás dos cotovelos fazia a sua alimentação, mantendo-o vivo, jovem e revigorado durante todos esses anos, injetando proteína direto na veia. Max caiu sentada, com a respiração presa entre os pulmões e a faringe.
- Por favor Maxine, levante-se, não faça essa cara! Pensei que você fosse tão corajosa quanto seu avô, Max! – fez a voz outra vez. O feto adulto mexeu a mão direita num espasmo rápido. Maxine deu um grito.
- Não, não! Max! Não se assuste, isso acontece de vez em quando! – riu a máquina outra vez.
Então aquilo era a ESFERA. Um homem. Um homem preso dentro de um ovo branco. Maxine não sabia se gritava de pavor ou felicidade. Quantas vezes, por Deus! Quantas vezes a turma não se reuniu nos corredores desertos da ala mais afastada da escola para papear a respeito daquilo?! A respeito dos mistérios de Neon City, a respeito do que era a ESFERA e de onde ela estava, se ela era realmente uma ESFERA ou se era um cérebro flutuando entre cabos de aço?! Era incrível, era maravilhoso, deslumbrante o saber, a descoberta a deixava extasiada e penetrava suas veias queimando seu peito e a deixando... completamente paralisada! Sem reação. Os olhos tão abertos que pareciam duas pequenas luas no céu do seu rosto apavorado e estático. Pareciam ter vida própria.
- Você tem os olhos lindos, Max, bem como o Chris me falou...
- VOCÊ CONHECE O MEU AVÔ!? – foi o que ela conseguiu fazer sair, gritado e com força. Lutando contra a vontade de correr pra fora do salão ou de correr até o ovo e tocá-lo, três Maxines lutando dentro de um só corpo. A hesitante, a apavorada e a curiosa.
- Estudamos juntos, Max, nos conhecemos muito jovens. Ele tinha 16 e eu 17...
- O tempo em que o Apocalipse Club surgiu! – gemeu Max com lágrimas de emoção nos olhos. – mas é incrível! Como ele nunca me falou sobre você?! Sobre o que você era?! Sobre quem você foi?!
- Provavelmente deve ter falado, Max, mas não se referindo a mim como a ESFERA em si, mas como seu velho amigo de conversar pela madrugada a fora, no Messenger até as quatro da manhã...
Maxine ficou sem ar mais uma vez. Olhou para trás e gritou. Encarou Ray Ann incrédula. A velha sorria.
- Então. Ligou os fatos?
- E COMO LIGUEI! – ela pôs-se de pé – VOCÊ É DON! DON HILLS! O PRIMO DA RAY ANN! O PRIMO MAIS PRÓXIMO DA RAY ANN! SIM, VOCÊ É O DON HILLS! MEU DEUS DO CÉU, VOCÊ É DON HILLS!
Ray Ann gargalhava lá atrás, sua voz rouca ecoando pelas paredes brancas que vez ou outra eram cortadas novamente pelos flashes azuis de energia pura. A ESFERA também ria.
- É! Sou eu! – riu o cérebro do mundo.
- Mas como?!... O que?!... Mas por quê?!... – ela não sabia qual pergunta faria primeiro.
- Eis aqui o que aconteceu...
Assim, a realidade branca se retorceu para formar um mundo desconhecido à Maxine. Ela estava num quarto, num quarto estreito como um banheiro, onde duas pessoas, um homem alto e forte e uma mulher de cabelos escuros, mexiam em cabos e placas, em parafusos e fios, tirando e colocando tudo com pressa, com muita pressa.
- Esses somos nós, eu e Ray, há alguns anos atrás – disse a voz. – quando eu decidi criar a ESFERA...
- Você não era a ESFERA antes?! – perguntou Maxine, tremendo dos pés à cabeça e suando frio.
- Não, nem sempre fui a ESFERA... Na verdade, eu criei a ESFERA com o intuito de fazer a segurança da casa onde nós morávamos, onde crescemos e passamos grande parte da adolescência... O mundo estava em surto, os saques eram constantes, os assassinatos eram feitos em massa, e isso porque os alienígenas ainda nem tinham chegado! Estávamos correndo perigo de vida e o Apocalipse Hall não era mais seguro... Foi quando eu decidi criar um sistema de segurança via-satélite congênito que ligasse as duas bases do Apocalipse Club, a casa onde morávamos, agora abandonada e o Apocalipse Hall, nos protegendo dos bandos que entravam e saiam da cidade frequentemente, destruindo tudo... Como sempre tive muitos contatos, os donos da Intel, a fabricante de processadores, comprou a minha ideia e resolveu ajudar na fase de testes do apetrecho que funcionou perfeitamente, mas com o mundo em completo caos não havia como manter uma empresa sem capital algum, e a Intel faliu... Mas eu continuei a aperfeiçoar o programa até que, acredite se quiser, eu tive um sonho...
O ambiente se distorceu de novo e lá estavam Ray Anne e Maxine de mãos dadas, assistindo ao jovem Don Hills em seu sonho, caminhando num mundo completamente branco, todo feito de luz, em direção a um ovo que flutuava em seu centro. Mas, ao contrário da realidade de Max, o ovo não continha um homem flutuando numa placenta, mas sim um homem sentado num tipo de poltrona do outro lado. Um homem sem nenhum pêlo no corpo, exceto as sobrancelhas, que lhe disse:
- Don, você sabe o que fazer – disse o homem antes de sumir numa nuvem de fumaça.
- E então eu soube naquele exato momento que eu tinha de dar um jeito no mundo, eu tinha os meios para dar um jeito no mundo, tinha um computador super inteligente criado a partir do meu próprio PC. Eu decidi então unir meu cérebro ao cérebro da máquina, pois eu percebi que a máquina sem o homem não passa de uma reles cópia falsa e hipotética da existência, sem sentimentos ou reflexões. Unindo meu cérebro ao da máquina eu estava criando um novo ser, uma coisa que nunca, jamais existiu na face da terra. Eu estava me tornando esse novo ser. A super inteligência. E essa coisa que eu havia me tornado tinha um único propósito: reunir a humanidade outra vez, colocar em ordem aquilo que se tornou caos da noite pro dia! Assim nasceu a ideia central de Neon City...
O universo se distorceu de novo, gerando uma caravana de jipes, ônibus, carros, cavalos, carroças e camelos no meio do deserto que havia se tornado o sul do Amapá. Usando um estranho capacete, Don Hills ia à frente num carro dirigido por Ray Ann onde Christopher Umbrella e Elly Rich faziam-se presentes no banco traseiro.
- Reunimos o máximo de pessoas que pudemos, retiramos os últimos moradores de Macapá e formamos uma caravana até uma área segura do cerrado já quase completamente morto naquela época. Lá demarcamos o território próximo a um rio de nome desconhecido e uma ponte quebrada. Hoje completamente restaurada e atualmente servindo de acesso aos bairros mais distantes de Neon City... A cidade cresceu tanto que engoliu seus arredores... Minha visão se tornou real e tão concreta que eu mal podia acreditar, eu havia então chegado ao meu objetivo de abrigar os seres humanos outra vez numa sociedade organizada e perfeita. Aos poucos outras caravanas foram chegando e do material que tínhamos em mãos fomos construindo a cidade com ajuda de máquinas trazidas de todo canto do mundo. Neon City cresceu e cada tecnologia trazida a mim foi adicionando-se ao arsenal que já tínhamos e crescendo cada vez mais. O projeto de Neon City foi feito por vários arquitetos e engenheiros urbanos encabeçados por Ray Ann e Pietro, aos poucos tudo aquilo que antes estava nos gráficos dos nossos computadores tornou-se real, os profissionais que iam chegado juntavam-se à equipe e aperfeiçoávamos o projeto da cidade perfeita, e tudo cresceu tão rápido com a ajuda das máquinas que em três anos tínhamos grande parte das moradias e dos prédios. Nosso primeiro prédio foi a sua escola, Max...
Maxine não conseguia mais se espantar com tudo aquilo, estava até se acostumando a tantas revelações. O mundo se distorceu pela última vez, em frente às duas agora estava a face transparente de um grande ovo onde um feto adulto flutuava dentro do líquido amniótico.
- Enfim – continuou ele – nós criamos o mundo perfeito a partir da minha ideia de preservar a ordem da sociedade humana e a espécie. O meu banco de dados se tornou o mais completo e mais inteligente da face da terra, fiquei conhecido em todos os cantos do mundo como “A Inteligência Iluminada” e em pouco tempo assumi o controle das principais capitais ainda existentes. Criei o mundo perfeito... E agora isso... Eu recebo um golpe nas minhas próprias costas vindo direto da raça que eu me comprometi em proteger.
Os sulcos das paredes foram preenchidos agora por luzes vermelhas que escorreram até o ovo pelos cabos de alimentação, tornando vermelho o liquído onde o homem flutuava.
- Agora, Maxine, é tarde demais... Eu confiei demais nos humanos...
Fim da Parte Doze!