Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

PARTE CINCO: COSMOGONY SOB ATAQUE!




- Porque você não acorda logo de uma vez?

Ele tentou mover os lábios, mas não conseguiu. Era como se eles já não fossem mais seus, era como se o corpo inteiro não lhe pertencesse mais. Haviam vários sóis minúsculos ardendo debaixo da sua pele, pulando e dançando feito gafanhotos. Ele conhecia isso como formigamento, amortecimento ou dormência, mas ali no meio do espaço era muito mais do que isso, era estar conectado, era estar recebendo uma frequência, um impulso magnético do sistema nervoso do universo.

Ele tentou mover os lábios mais uma vez, sem sucesso.

- Você não precisa abrir a boca para falar comigo, apenas pense.

“Hi... Kiko... Mori?”

- Sim, exatamente.

Porque ele sabia aquele nome? O que significava aquele nome? Pertenceria à dona daquela misteriosa voz, talvez? Ecoando no infinito da sua mente, no infinito do universo.

“Como? Porquê?”

- Seria difícil explicar seus “comos” e seus “porquês” sem deixá-lo louco, Christopher Umbrella.

“Você sabe...”

- Sim, eu sei seu nome, afinal de contas, você é o Cavaleiro da Libertação, O Guerreiro Intergaláctico, o Guardião do Coração.

Ele finalmente conseguiu abrir os olhos. Se encontrava deitado numa ampla cama de enfermaria. O cômodo inteiro estava banhado em total escuridão, exceto por uma parede transparente à sua esquerda que proporcionava uma vista espetacular do espaço sideral lá fora. Um vulto incrivelmente alto estava parado ali, de braços cruzados, de costas para ele. Tinha formas femininas, a luz das estrelas vinda de fora expunha suas formas sinuosas, e fazia com que seus cabelos de um negro intenso refletissem magicamente como fosse espelhado. Haveria possibilidade de algum tipo de assombração existir no meio do espaço?

“Do que você está falando?”

- Do que todo o povo oprimido em cada lua, em cada planeta e em cada espaçonave deste universo andou falando durante esses quase cinquenta mil anos terrestres, ou mais, cem mil talvez. O tempo pouco importa quando se vive nas estrelas. Alguns seres que vagam entre as galáxias são tão velhos quanto as próprias estrelas. Eu talvez seja um deles. Azura talvez também seja.

“Quem é Azura?”

- De certo modo, ela é você, ela faz parte de você, e você faz parte dela.

“Me desculpe, mas isso não faz sentido algum. Por acaso isso é um sonho? Porque parece tão real!”

- Se fosse apenas um sonho você não estaria se indagando disso. Quando estamos sonhando vivemos o sonho como se ele fosse real, como se ele fosse a realidade. Jamais nos perguntamos se ele é um sonho ou não. Raras vezes temos a certeza de que era realmente um sonho, e quando a temos ficamos calados.

“Isso é tão estranho! É como se eu já soubesse que você viria em algum momento! Eu sei que você é Hikikomori, a Sybila que foi fiel à Princesa Azura mesmo quando ela se tornou uma imperatriz cruel, e topou aliar-se a ela na conquista do universo inteiro mesmo indo contra todos os seus valores. Simplesmente por amá-la demais para deixá-la sozinha. Mas eu não deveria saber nada disso, porque eu não sei o que isso significa para mim.”

- Isso é algo que esteve adormecido em você, Cavaleiro. Algo que foi despertado pela minha presença... Minha presença... Eu não deveria estar usando a projeção astral, neste exato momento ela já deve ter pedido auxílio a uma de minhas irmãs para encontrar-me. Rastreando o Pulsar...

“Aib’somar!”

- Exato.

O cérebro do Professor estava em chamas! Como ele sabia de tudo aquilo? Porque sabia aqueles nomes e aqueles mitos sem nunca antes ter tido contato com algo semelhante em sua vida inteira? Porque ele conhecia Sybila Hikikomori tão bem quanto a palma da sua mão mesmo nunca tendo antes a visto? Era como um conhecimento estranho de uma infância nunca vivida, era como saber onde a avó de um desconhecido escondia os biscoitos sem nunca tê-la visitado. E isso era tão bizarro quanto tal analogia.

“Aib... Quer dizer... ESCOLHIDO! COMO ISSO É POSSÍVEL? COMO EU SEI DISSO TUDO?”

- Você... Simplesmente sabe. – enquanto a figura feminina assustadoramente alta falava, sua fantasmagórica figura movia-se aos poucos, girando na base como uma estátua, era assustador vê-la fazendo aquilo, porque seu corpo em si mal respirava, parecia um grande manequim sendo movido por alguma plataforma automática oculta. Apavorante.

Aos poucos, aquele corpo perfeitamente branco coberto de pérolas foi dissolvendo-se em mariposas, o que foi uma lástima, pois Christopher Umbrella desde pequeno sempre teve pavor de insetos. No mesmo instante em que uma enorme borboleta negra noturna bateu suas asas escapando dos cabelos negros de Hikikomori, o Professor saltou da cama aos berros tentando escapar do monstro, mas antes que ele tentasse sair do quarto, correr ou chamar por ajuda já era tarde demais: os cabelos da Sybila haviam se desfeito em milhares de mariposas de várias espécies (terrestres ou não), envolvendo-o numa nuvem de ruflares e bater de asas sem fim.

A própria Sybila estava se desfazendo em mariposas enormes e gordas, seu braço já não existia mais, muito menos suas pernas, ela estava se desfazendo como se fosse feita de areia soprada pelo vento, e aqueles insetos asquerosos estavam envolvendo Christopher numa nuvem de desespero. Ele urrava em agonia, mas os insetos ao seu redor abafavam seus gritos, e quando tudo aquilo teve um fim, quando a última mariposa afastou-se e desapareceu, ele abriu os olhos e já não mais se encontrava no quartinho apertado como um armário da enfermaria.

Ele estava numa ampla e espaçosa sala branca cheia de parafernália laboratorial e muitos computadores. Todas as telas estavam ligadas mas não havia ninguém ali, por causa disso uma luz azul melancólica banhava todo o local, já que as persianas estavam fechadas e a luz das estrelas não adentrava no recinto. Além do mais, aquela face da estação espacial não estava voltada para o sol, de modo que quase tudo ali era escuridão total.

- Olá? – ele conseguia falar, e o próprio som da sua voz o assustou, ecoando pelo laboratório vazio. Uma única luz acendeu-se, bem no centro do lugar. – mas o que está acontecendo? – ele arrepiou-se dos pés à cabeça imaginando a nuvem de mariposas o envolvendo outra vez no escuro, de supetão. Então apressou-se em se aproximar da luz. Para sua surpresa, tratava-se de uma bancada redonda protegida por um domo de vidro contendo um enorme e disforme objeto que retinha resíduos de poeira cósmica e gelo endurecidos em sua superfície multifacetada como um dado de milhares de faces. Estas faces triangulares faiscaram um segundo antes que o artefato começasse a flutuar no ar e emitir um brilho azul intenso.

O Professor deu um passo para trás.

A coisa girou várias vezes como um pequeno sol, e aos poucos o gelo que a envolvia foi derretendo. A crosta de resíduos também desfez-se aos poucos, como uma pílula para azia colocada num copo d’água, a poeira cósmica agrupada foi aos poucos se tornando uma nuvem cinzas flutuando ao redor do estranho objeto. Ele emitia ondas ritmadas, como um estranho retumbar. Era como estar ao lado de uma enorme caixa amplificadora que reproduzia batidas em uma frequência tão alta que fazia seu peito vibrar junto à música, retumbar como ela. Um, dois, três pulsares, no terceiro o domo isolador, espalhando cacos em todas as direções. Por mais estranho que pareça, eles sequer passaram perto de Christopher.

A caixa dourada que flutuava ali diante dele abriu-se como uma flor, revelando em seu interior um órgão flácido e retorcido como uma uva passa, conservada e congelada em alta tecnologia durante milhares de milhões de anos, talvez aquilo exista desde antes de a terra começar a formar-se. Era absurda a sensação milenar e ancestral que aquele órgão morto passava.

Mas ele não sentia medo, ou nojo daquilo, muito pelo contrário. Christopher Umbrella estava sentindo um amor que nunca havia sentido antes, uma ternura e compreensão sem precedentes, algo que crescia tão depressa e desabrochava violentamente como uma rosa capturada em quadros acelerados. Lágrimas salgadas escorreram pelo seu rosto, e o brilho azul intenso dobrou de força. Todo o sofrimento, toda a história de Azura passou por sua cabeça como um filme de mil anos em três segundos, tudo isso em meio ao soprar de um vento quente e pesado como os raios de uma supernova.

Por causa disto, ele sequer percebeu que o alarme havia soado, não fazia ideia de que um exército inteiro de oficiais à serviço da segurança de Cosmogony estava a caminho.

O transe só foi interrompido por um estranho pulsar sísmico, e aquilo não foi oriundo da caixa que guardava o coração. Havia vindo de fora, do espaço, algo gigantesco havia se chocado com a estação espacial pelo lado de fora. As luzes, o brilho, o vento, o alarme, tudo apagou-se após aquele estrondo que levou Christopher Umbrella ao chão. Até a tropa que estava a caminho parou.

- Continue bombardeando, Arganack! Hikikomori logo aparecerá! Ela não aceitaria que inocentes morressem por sua causa! – resmungava uma anã chifruda, na cabine de uma colossal nave espacial em forma de ferradura, cercada por uma frota inteira de monstruosas naves como ela.


Outro tiro, outro tremor, as luzes piscaram mais uma vez, e uma pressão externa fez os ouvidos entupirem.

- Mas o que está acontecendo?! – exclamou Augusta, confusa, levantando-se da cadeira do refeitório da enfermaria ao ver a agitação das pessoas, que aos poucos começavam a entrar em desespero.

- Acalmem-se, meninos, por favor, permaneçam sentados por medida de segurança – o capitão Donnick também estava à mesa com o resto do grupo, afinal fora ele quem socorrera o Professor Umbrella em seu desmaio. Estava estendendo os braços tentando conter aqueles que queriam debandar, assim como metade do refeitório levantava-se e corria para fora, para os corredores da estação espacial procurando respostas.

Pietro e Augusta já estavam praticamente de pé e se afastando da mesa, procurando a origem da agitação, o motivo dos tremores, enquanto Ray e Fábia permaneciam sentadas com os olhos maiores que quatro plutões espantados. Fábia em especial estava gelada dos pés à cabeça. Já havia perdido todo o sangue do seu rosto, de modo que estava pálida como uma assombração.

- Amigos, voltem para a mesa, por favor. Se estivéssemos sob algum tipo de emergência os alarmes já haveriam de ter...

Antes que o capitão pudesse terminar sua frase, as luzes vermelhas até então apagadas e quietas nas laterais do salão começaram a girar freneticamente, tingindo o ambiente branco de um rubro escuro. As plantas tropicais da ornamentação pareciam agora vultos banhados em sangue. Fábia começou a berrar no exato momento em que algum apressadinho passou correndo pela mesa e derrubou um vaso com uma pequena palmeira cuja copa foi parar em seu colo. Ray Ann começou a chorar enquanto Pietro e Augusta corriam para a saída.

- Aonde vocês vão?! – berrou o capitão em meio às sirenes – voltem aqui! Não vão! Vocês vão se perder! Devemos ficar juntos!

E foi como se alguém houvesse beliscado o traseiro de Ray Ann, que recompôs-se de supetão e pôs-se a correr.

- TEMOS QUE SALVAR O PROFESSOR! TEMOS QUE SALVÁ-LO! – ultrapassou Pietro e Augusta num piscar de olhos com suas canelas finas e curtas, porém rápidas o suficiente para que ela alcançasse a saída desviando de mesas derrubadas e cadeiras de pernas para o ar, além de pessoas retardatárias perdidas em meio à confusão.

- Ai, você também não! – o capitão tomou a frente na corrida para lugar nenhum, tentando puxar a garota pela jaqueta, sem sucesso. O empurra-empurra generalizado acabou afastando os dois significativamente, mas ele ainda podia ver a cabeça da garota desviando com agilidade dos corpos em agitação no meio do caminho. Pietro, Augusta e uma recém-esperta Fábia trataram de segui-los! Não iam ficar para trás sozinhos no meio daquela confusão de maneira alguma!

- Nós nem sabemos o que está acontecendo ainda! Porque estamos entrando em desespero? – berrava Augusta enquanto corria.

- EU NÃO SEI GUTA, MAS EU É QUE NÃO QUERO MORRER! – Pietro já estava pingando feito um picolé derretendo ao sol. Estava correndo e estava nervoso ao mesmo tempo, uma combinação maldita para quem costuma suar rios.

E de repente, as luzes vermelhas apagaram, as sirenes cessaram, e os tremores pararam. Reagindo por reflexo, todos os humanos desesperados sem motivo, que corriam para salvar suas vidas ignorando todas as medidas de segurança sob as quais foram treinados para sobreviver a situações parecidas (falta de tentativa de controle por parte dos guias da Cosmogony com certeza não foi) estancaram no meio do caminho.
Era como brincar de estátua valendo. Olhos muito abertos e músculos retesados ao longo de todos os corredores. Pessoas arfando violentamente.

- 안녕하세요, 인간! 당신에게 말할 Aib'somar은 주권 섹터 별의 황소입니다!

Silêncio absoluto.

- Porque estão falando em coreano nos auto-falantes?! – Fábia foi a primeira a se manifestar. Era perita no ramo oriental das coisas, de modo que conhecia um pouco de cada coisa daquele canto do mundo. Inclusive as línguas.

- A única coisa que eu entendi disso tudo foi Aib’somar... Que diabo de nome mais feio! – exclamou Pietro.

- E o que você entendeu, Fá? – Augusta estava desvairada, enlouquecida, se controlando para não surtar. Morrer no meio do espaço não estava em seus planos. E a lentidão de Fábia para traduzir aquele falatório estava deixando ela mais nervosa ainda! – VAMOS FÁBIA, TRADUZ LOGO ISSO AÍ!

- CALMA! Mas que coisa! Alguém deu saudações aos humanos e disse se chamar Aib’somar, soberana de alguma coisa em algum lugar aí...

- Ótimo, esclareceu tudo! – Augusta revirou os olhos e jogou os braços pra cima, revoltada. A confusão nos corredores e salões havia recomeçado, agora em forma de falatório. Um zumbir incessante de milhares de vozes cheias de perguntas ao mesmo tempo.

-이 쓰레기의 번역은 최소한에? 이런 무식한 내가 무슨 말을 해요의 아무것도 이해 못해! 이번 한번 Arganack 연결!

Mas que diabos?!

- SAUDAÇÕES, HUMANOS! – exclamou a voz mais uma vez, numa segunda tentativa de cumprimentar os habitantes da estação espacial. Era uma voz esquisita e carregada de sotaque, chiada demais – finalmente ligaram a porcaria do tradutor! MUITO BEM, HABITANTES DA ESTAÇÃO ESPACIAL COSMOGONY, é assim que chamam essa reles barcaça, não é mesmo? POIS BEM, VOCÊS ESTÃO NESTE EXATO MOMENTO SOB A MIRA DAS MINHAS TROPAS! OS QUATRO PRIMEIROS BOMBARDEIOS FORAM SOMENTE UM AVISO! UM QUINTO DESTRUIRIA O PARCO ESCUDO MAGNÉTICO DE VOCÊS EM UM SEGUNDO!

As exclamações de dúvida, pavor, medo e angústia logo tornaram-se gritos e berros, e a correria recomeçou. Na sala de controle da estação espacial, os comandantes tentavam contato com a então nave inimiga, sem sucesso. Eles haviam invadido o sistema e colocado seu sinal no lugar de qualquer outro tipo de transmissão que estivesse sendo feita. Até as sondas espalhadas pelo espaço ao redor e as naves exploradoras estavam recebendo aquela mensagem ameaçadora de voz.

- O MOTIVO DESTE ATAQUE É SIMPLES: VOCÊS TÊM ALGO QUE ME PERTENCE! ALÉM DE APROPRIAÇÃO INDEVIDA DO TESOURO DO IMPÉRIO, VOCÊS ESTÃO DANDO COBERTURA A SYBILA HIKIKOMORI. UMA PROCURADA DA JUSTIÇA ESPACIAL! – ela deu uma risadinha cínica. – AQUI QUEM VOS FALA É AIB’SOMAR, ARQUIDUQUESA DE TAURUS, SOBERANA DE ALDEBARÃ E SENHORA DE ARCTURUS! ENTREGUEM HIKIKOMORI E A CÂMARA CORONÁRIA E OS DEIXAREMOS EM PAZ!

- Ela tem razão, comandante, encontramos uma nave estranha escondida por algum tipo de escudo de invisibilidade na área da acoplagem – cochichou Elly Richter ao pé do ouvido de seu comandante. Além de guia da estação espacial, ela também costumava atuar na sala de controle nas horas vagas. – sequer tocamos naquilo, isolamos a área e estávamos esperando a reunião de hoje cedo acabar para lhe mostrar, e então o bombardeio começou...

- Encontraram o piloto desta nave?

- Nem sinal dele.

O comandante respirou fundo. Estava tremendo dos pés à cabeça e suando frio. Não havia sido treinado para este tipo de situação: a raça humana jamais suspeitara da existência de vida inteligente fora da Terra, de modo que isso parecia um absurdo para a grande maioria daqueles que estavam acompanhando a situação no momento. O maior problema estava na área do hotel, os hóspedes estavam descontrolados àquela altura. A única chance de saírem vivos daquela enrascada era entregar à Arquiduquesa sua procurada e tentar entender do que se tratava a câmara coronária da qual ela falara.

- Só pode ser o artefato que encontramos hoje. Não há outra explicação para eles terem nos encontrado. Precisamos devolvê-lo para os donos antes que eles façam dos nossos ossos poeira estelar. – Elly levantou-se e caminhou até o holograma gigantesco que mostrava a tropa de naves espaciais em forma de ferradura cercando a estação espacial de todas as direções. O escudo magnético repelente de corpos estranhos projetado para manter meteoritos à distância não aguentaria a potência daquelas armas nunca.

- Pois então mande que vasculhem toda a estação, peça que revirem cada pequeno canto deste lugar, ordeno que façam o que for preciso para encontrar a intrusa. Não podemos por a vida de toda essa gente em risco, jamais – o comandante cruzou os braços e fechou os olhos, preocupado.

Elly levou o pulso à boca e os dedos ao ouvido, sussurrou algo e voltou-se para a equipe de navegadores e especialistas da sala de comando.

- Nossos oficiais já iniciaram as buscas. Pode demorar algumas horas para que seja concluída. As câmeras de segurança registraram atividade suspeita na enfermaria e no laboratório de análise de amostras, o grupo de buscas já está a caminho para averiguação.

- Tomara que esses alienígenas tenham paciência...


- Vamos esperar que eles entreguem Hikikomori, Soberana? – indagou Arganack, voltando-se para sua superior com uma reverência.

Ela riu debochada.

- Claro que não, seu idiota. Nossos amigos queridos estarão invadindo em poucos minutos. – ela largou-se em seu enorme trono vermelho oval, relaxada – não confio nessa gente desse lado da Galáxia. Eles são uns trogloditas, poucos povos do universo têm coragem de manter contato com essa raça estranha... – Aib’somar fez uma careta de desgosto e nojo enquanto revirava os olhinhos suínos. Que criaturinha feia ela era. – eles são tão arcaicos e tão... Sujos! Eu tenho arrepios só de olhar para esse monte de vermes se contorcendo nos corredores disso que eles chamam de Estação Espacial! Olhem como eles são feios! Não possuem chifres, nem garras, nem tentáculos! São como fetos pelados e desprovidos de armas naturais, a natureza os castigou cruelmente quando os fez sem carapaça ou casco, pobres e miseráveis esses humanos! QUE NOJO!

Os três monitores gigantescos da sala de controle da CORNELIUS – nave-mãe do povo de Aib’somar, do qual ela era soberana – acenderam-se ao mesmo tempo, iluminando o salão vermelho de uma ponta à outra.

O vulto anão de Arganack revelou-se recurvado sobre a mesa de comando (que não era nada pequena), encabeçando uma equipe inteira de criaturas semelhantes a toupeiras usando uniformes alaranjados colados ao corpo. Eles estavam no controle da nave mãe, monitorando tudo, obedecendo fielmente às ordens da Arquiduquesa de Taurus, eram vinte ou trinta, estranhos gnomos com pelagem de foca e garras prateadas tão longas que os impossibilitava usar os botões, as alavancas e as telas de touch. Seus narizes assemelhavam-se muito aos de certas espécies de toupeiras terráqueas: como duas mãos unidas pelos pulsos, com uma narina em cada palma. Os “dedos” nas extremidades eram o que eles usavam para manusear o painel de controle.

Naquele momento, em algum lugar no interior da nave-mãe do império de Taurus – que era tão grande quanto a estação – o exército de androides se preparava para entrar em ação, tomando posição, inexpressivos e letais.

- Por favor, tripulantes, cosmonautas e hóspedes da Estação Espacial Cosmogony, mantenham a calma. As exigências dos invasores serão atendidas o mais rápido possível e a ordem será estabilizada, enquanto isso, permaneçam exatamente onde estão e mantenham a calma. – a mensagem na voz de Elly Richter foi repetida várias vezes em outras línguas. Enquanto isso, Ray Ann, Pietro, Fábia e companhia se entreolhavam nervosos e apreensivos.

- To pouco me lixando, eu vou é salvar meu professor! – Ray Ann gritou no meio de todo mundo, e foi abrindo espaço às cotoveladas, correndo em direção ao portão mais próximo para as pontes suspensas.

- Epa! Ray, não! Espera! Volta aqui! – o capitão Donnick tentou agarrá-la mais uma vez e impedi-la de se perder no meio da multidão, sem sucesso. Acabou apelando para o mesmo método que a pequena estava utilizando: cotoveladas e empurrões para segui-la. O resto do grupo, como não pretendia ficar para trás aderiu ao movimento, e observando aquela movimentação de gritaria e perseguição, a multidão ao redor voltou ao mesmo estado de caos em que havia parado, pensando haver algum tipo de emergência. Imediatamente todos passaram a correr na mesma direção em que Ray Ann estava correndo.

Não custou muito para que o grupo se encontrasse rapidamente fora daquela confusão, correndo atrás de Ray Ann através do corredor suspenso no meio do vazio, ligando o núcleo à apêndice da estação espacial. A vista era assustadora. Além de estar correndo através de uma espécie de tubo de vidro no meio do espaço – que por si só já era uma experiência apavorante – eles puderam averiguar o nível de gravidade da situação: a estação espacial estava cercada de estranhas espaçonaves por todos os lados. Intimidadoras e imponentes, lembravam besouros chifrudos graças às duas protuberâncias que cada uma delas possuía. Estes pares de chifres provocavam faíscas vermelhas nervosas. Sinal de que eles estavam prontos para o ataque.

E encabeçando a frota, exatamente em cima da estação espacial, estava a nave-mãe. Algo gigantesco no formato de uma ferradura dourada. Vista debaixo lembrava um par de chifres ameaçadores, esta possuía também uma esfera prateada como núcleo flutuando entre os cornos como se fixo ao resto da nave por uma energia misteriosa invisível. Ao atingir o bloco onde se encontravam os dormitórios e as enfermarias, o grupo seguidor de Ray Ann percebeu tarde demais que o panorama era o mesmo: caos e correria. O quarto para onde Christopher Umbrella foi enviado não estava muito longe, era logo por ali, um dos primeiros graças à influência e insistência do capitão Donnick, que aliás era muito conhecido por ali.

- É por aqui, vamos! – Ray só parou um instante no meio do caminho para se virar e chamar pelos companheiros que aos poucos estavam ficando para trás, vencidos pelo cansaço e pelos obstáculos – Não parem!

- Droga, garota! Fica parada! – esbravejava o capitão. – não podemos...

Tarde demais, algo estranho estava começando a acontecer.

A esfera prateada no centro da nave em forma de ferradura estava dando origem a milhares de outras esferas pequenas que desciam vagarosamente em direção à estação espacial como neve. Globos prateados perfeitos e enormes, eles estavam iniciando movimentos circulares ao redor do cilindro da estação como pequenos planetas orbitando um sol, mantendo certa distância e girando sem parar. Aos poucos, seus irmãos se juntavam aos que já haviam descido e iniciavam a dança ao redor do corpo da Cosmogony formando um verdadeiro cardume de esferas flutuantes. Todos acompanhavam aquela movimentação, confusos e assustados. O que aquilo significava?

O pânico começou quando uma delas aproximou-se pelo lado de fora e atravessou a parede transparente do grande corredor como se fosse um fantasma, e lá dentro deu origem a um ser humanóide prateado sem rosto, que emitia estranhos sons que variavam entre a frequência de rádio e o canto de uma baleia. A gritaria começou aí, e não teve mais fim, pois as outras esferas prateadas estavam fazendo o mesmo, atravessando os limites físicos da Cosmogony como se não possuíssem corpo material, atingindo seu interior e assimilando a silhueta humana criando braços, pernas e cabeça.

Era a invasão do exército de androides metamórficos de Aib’somar.

Continua...

















Hey pessoal! Essa foi a primeira postagem do ano! Dei tudo de mim para esse capítulo de Space Oddity para a abertura de 2012 ficasse perfeito e impecável. É claro que não deu muito certo, risos, mas pelo menos da minha parte estou satisfeito! Espero que tenham paciência com o andamento da série, ando um pouco preguiçoso e agora dei de assistir Sailor Moon desde a primeira temporada, e isso tem tomado minhas madrugadas de escritor (que viraram madrugadas de otaku). Para 2012 tenho muita coisa em mente, então aguardem!






Louie Mimieux

Um comentário:

  1. Gostei muito do blog, espero ter tempo para ler mais. Adorei o poema "Montanha de sentimentos", muito bom mesmo. Se tiver tempo passa no meu blog: www.aguasdolethe.blogspot.com

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E então? O que achou?