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segunda-feira, 10 de maio de 2010

Stella Vai à França




Uma das poucas coisas que Stella lembra-se muito bem em toda a sua vida, tendo a memória de peixe que tem, é daquela sua viagem à França. Talvez o período mais estranho e mais atribulado de toda a sua frívola e promíscua existência. Foi mandada para lá meio que de castigo por causa de todos os acontecimentos envolvendo a vizinhança e essas coisas. Sua nova casa seria o apartamento minúsculo abarrotado de livros velhos de uma tia que ela mal conhecia e que mal parava em casa. Segundo sua mãe, a irmã mais velha do pai de Stella, Florência, morava em Paris, numa rua apertadinha muito próxima a centros movimentados de bares e cafeterias repletos de baderneiros, prostitutas, bêbados, filósofos e poetas do novo século. Os becos ali fediam e quase sempre estavam cheios de lixo, mas o vento fresco que vinha diretamente do Sena e ali desembocava como um rio de deleite e prazer fazia compensar tudo aquilo. Era o lugar mais procurado pelos mendigos no verão e menos frequentado pelos cachorros no inverno. Aquilo ali poderia ser um paraíso ou um inferno quando era preciso.

Stella gostava de passear por ali com a sua nova vespa, uma lambretinha vermelha barulhenta e razoavelmente rápida que costumava cortar aqueles becos como uma abelha vermelha furiosa zunindo com uma loira cor-de-ovo montada na garupa. Aquela lambreta era nova só na técnica, porque na prática estava encostada num quarto qualquer há mais de 20 anos.

- Lucas... O que será que se fez daquele garoto? - resmungou Stella enquanto bebericava alguma coisa depois do banho gelado que ela havia tomado. Com a ajuda, é claro, de Wanda e de Haroldo na madrugada que acabara de ficar para trás. Os dois guardiões da vadia suja dormiam nos pufes, jogados de sono de qualquer jeito. A posição de Haroldo renderia uma boa dor na coluna poucos instantes depois que ele acordasse. Stella estava resistindo bem demais. Assim que ela caísse na cama, desmaiaria e se acordaria talvez dois dias depois, e encontraria aquele apartamento todo revirado. No bom sentido é claro, Wanda iria chamar um multirão se fosse preciso, para limpar aquela zona infernal que Stella havia criado.

- Essa sapatão tola... - riu-se Stella, perguntando-se como alguém poderia se preocupar tanto com ela...

Vez ou outra, Lucas vinha à sua mente, um garoto ímpar, de olhos esbugalhados, encarando-a ali, parado na calçada, pouco tempo depois que ela fora lançada para fora de um bar numa briga por causa de uma rolha da garrafa de vinho de um velho barrigudo e mal encarado que bebia sozinho numa mesa.

- Onde está a maldita rolha?! - ele perguntou a Stella, implicando com a garota, ainda magrela, que bebia e mexia com alguns rapazes motoqueiros bem animadinhos. O velho a encarava há horas, a encarava desde o exato momento em que ela havia metido seus malditos pés naquela espelunca de teto baixo que fedia aos piores tipos de fungos. Ela se perguntava consequentemente o que estava fazendo ali, mas não o suficiente para se levantar e ir embora, porque o moreno que havia lhe pagado um copo de uísque era tudo o que ela precisava na cama naquele final de noite. Sua vida de vadia começou oficialmente nos becos sujos francesas. Poderia até dizer-se que Stella era uma vadia de luxo, e não uma vadia suja qualquer que começou a vida nas pontes do seu bairro de palafitas numa cidadezinha de interior qualquer.

- Eu a enfiei no...

O resto de uma das frases favoritas de Stella, vocês provavelmente devem conhecer. Talvez aquele gordo estivesse despeitado porque ela não havia dado um pingo de moral para a tentativa frustrada dele de a seduzir, ou talvez ele quisesse ser tão sexy quanto ela e não conseguisse nem em mil anos com aquela barriga toda. O que aconteceu a seguir foi que uma mão enorme pegou Stella de surpresa quando ela voltou sua atenção para o grupo de rapazes fedorentos que a enchiam de galanteios baratos. A mão agarrou nos seus cabelos e a atirou por cima de uma mesa, seu corpo quebrou uma vidraça já meio emendada e rolou para uma vala. Sorte dela que estava de jaqueta, se não os cortes seriam feios. Por sorte, sofreu apenas um arranhão de nada na testa. Foi quando a troca de tiros começou lá dentro. Seus parceiros a estavam defendendo. E ela saíra correndo em desabalada carreira, até a "motoca" ficara para trás.

Foi então que ela encontrou Lucas.

E foi então que muita coisa mudou na vida de Stella.

Lucas.

Ela nunca vai esquecer de Lucas.

O que se fez afinal de Lucas?

Seu romance de uma noite só?

Talvez o único homem que ela amara de verdade em toda a sua vida?














Para saber o final desta história, leia:






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