Ali estava ele, de cabeça baixa. Ele tinha pegado o papel de dentro da caixinha que a professora estava passando de carteira em carteira. Era muito jovem, mal se lembra direito do que aconteceu. Mas o fato era que aquela tarde fora o começo de tudo, o começo de todo esse martírio e de todo esse arrependimento que o corrói como úlceras agora nesta noite estrelada. Órion diz olá no horizonte à esta hora.
Todos os alunos da sala de aula tinham em mãos sua própria tira branca de papel dobrada no meio. A eles foi dito "não abram até que venham aqui para frente".
O garoto ainda estava de cabeça baixa. Desenhando, rabiscando no caderno, costume velho, arcaico, antigo, coisa de sangue, arte e criatividade correndo na veia.
O outro garoto atravessou a turma a passos lentos, desviando de carteiras e mochilas, a professora o chamara. Ele era quase tão rechonchudo quanto aquele que desenhava calma e ludicamente na última folha do caderno.
- Diga-me, o que está escrito no seu papel? - perguntou a professora, colocando a mão em cima dos ombros do menino - lembre-se de colocar o seu nome no espaço vazio, esta é uma dinâmica para que vocês interajam entre si e formem duplas para o trabalho avaliativo desta tarde.
Era primeiro dia de aula.
- Diga-me - pediu a professora de novo.
- Eu sou P., uma boca sem batom.
A turma silenciou-se.
Fez-se silêncio por alguns segundos.
- Quem é o batom desta boca?
Perguntou a professora. As piadas começaram antes da revelação do outro par desta dupla.
O desenhista abriu seu papel...
- Eu sou A., o batom da sua boca.
Após todos esses anos, ele para pra pensar.
Mitologia Grega, maldita Mitologia Grega.
Mitologia Grega pura.
Roda do destino.
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