Antes de dar início a esse texto
eu passei os quarenta minutos inteiros do meu banho pensando se deveria ou não
começá-lo. Uma vez que a primeira linha é escrita não se pode voltar atrás,
você deve ir até o final custe o que custar, mesmo que demore alguns anos para
que a ideia atinja a forma exata de perfeição que foi vislumbrada no momento em
que a concebeu. Mas o que vem por aí é muito mais do que uma ideia, é algo
muito pessoal, particular e profundo, algo que por algum motivo ainda não
explicado, decidi compartilhar com vocês, aqueles que têm paciência e mente
aberta (e disposição) para encarar textos grandes e opiniões um tanto... Fora
do convencional.
Por isso devo avisá-lo, leitor:
se você não possui a mente aberta o suficiente para filosofias um tanto
contrárias e ainda em fase de transformação, fundamentação e solidificação, NÃO
SIGA ADIANTE. Feche a janela e vá ler alguma coisa mais simples e agradável,
porque o que será dito aqui pode desagradar muitos fundamentalistas, pessoas de
mente fechada e... religiosos em geral. Mas entendam desde já que não pretendo
montar algo revolucionário ou contaminar as pessoas com a minha opinião e
fazê-las engolir aquilo que penso, meu objetivo é apenas compartilhar, fazer os
“aprendizes” como eu, pensarem um pouco no mundo que os rodeia.
Acontece que hoje, mais cedo, fui
abordado por uma pessoa que me fez pensar. E eu adoro pessoas que me fazem
pensar, elas me questionam e pressionam suas adagas furiosas contra a garganta
do meu consciente de modo a incentivá-lo a sobreviver, a lutar para manter-se
em constante evolução, crescimento e amadurecimento. Faz algum tempo que deixei
de seguir valores e conduta cristãos, deixei de acreditar em santos e em uma
única força toda poderosa, em um livro onde toda a verdade da vida está escrito
e em coisas do tipo. Decidi iniciar uma jornada em busca de algo que não
encontrei em nenhuma das religiões que cruzaram meu caminho, algo que nem eu
sei explicar (devido ainda estar em busca disso), e essa jornada me levou à
vertentes de pensamento que eu jamais imaginaria atingir seguindo quaisquer dos
dogmas e “leis” das religiões que encontrei no caminho. O que mais se
“aproxima” do que creio hoje em dia é o paganismo em geral, as religiões
antigas, dos primeiros homens.
“Se você não acredita em Céu e
Inferno, pra onde você acha que a gente vai quando morre, pro digimundo?” ele
me perguntou. E eu lhe disse que aquilo que não vejo e não sinto não faz
sentido pra mim. Ele me aconselhou a ter filhos e eu fiquei me perguntando o
que isso queria dizer, até que me fez o favor de explicar que só assim eu
poderia compreender a existência de um Deus.
OH, WAIT.
Eu não havia dito em nenhum
momento que não acreditava em um deus. Só disse não crer no conceito de um
Céu/Inferno, ou seja, ele tomou a crença num ser superior resumida por crer em
seguir caminho para planos diferentes após a morte, o que são duas coisas
totalmente diferentes. Aí então fiz questão de dizer que não acredito em deus
da mesma forma que ele, mas acredito em uma força superior. Ou melhor dizendo,
em forças. Não obtive respostas a partir de então, fui então ao banho e me pus
a pensar. Pensar em coisas que eu já não pensava havia algum tempo.
Ora, o conceito de Céu e Inferno
existe porque os humanos criaram a ideia de “Bem” e “Mal”, ideia que já
abandonei tem aproximadamente três anos. Se você fizer o Bem e somente o Bem,
seguir todas as regras e ser obediente, terá seu lugar reservado no Paraíso.
Mas se você praticar o mal, estará imediatamente sujeito às torturas medievais
brutais do Inferno, com direito a lagos de fogo, desertos escaldantes e coisas
do gênero.
Mas aí é que está o problema: não
há pessoas completamente boas ou completamente más. Todos têm a sua parcela de
Bem e Mal feita ao longo dos anos. Mas a crença comum diz que àqueles que
praticaram o Mal e se virem arrependidos, há uma chance de voltar atrás e ser
perdoado. Mas perdoado exatamente do quê se não o Mal propriamente dito não
existe? Vejam um exemplo básico de como isso funciona:
Uma mulher mata seu marido.
Segundo a crença comum, é pecado
matar, mas ela se viu sem saída após sofrer de violência doméstica durante um
período tortuoso de tempo. Para o marido e a família do marido a mulher é uma
assassina, ela fez o Mal a ele, ela o matou, logo merece punição. Mas se você
olhar pelo lado dela, vai ver que ela fez um Bem a si mesma e ao mundo tirando
de circulação o crápula. Não é certo matar, em hipótese alguma, mas aquilo foi
necessário no momento para que quem acabasse num caixão não fosse a própria.
Outro exemplo comum e bem mais
simples:
Duas garotas num colégio são
amigas e convivem bem, com um pequeno “porém”: as duas gostam do mesmo rapaz. A
primeira consegue a atenção do seu objeto de desejo e uma relação começa a ser
construída, a segunda observa tudo aquilo calada, mas indignada. Supomos aqui
que ela conhecia o rapaz primeiro, supomos aqui que ele seja seu amigo de
infância e ela já fosse apaixonada por ele há algum tempo. Supomos aqui então
que “no papo” ela consiga levá-lo até onde o necessita e algo concreto acontece
entre eles, como um beijo ou uma sessão de sexo, tanto faz. Ela alcançou seu
objetivo! Ela está feliz! Mas e a outra amiga? E quando ela descobrir? Será que
ela vai achar que a outra tinha mais direitos que ela só porque conhecia o
rapaz antes? Será que ela achará justo?
Você consegue enxergar o que eu
enxergo? É tudo muito relativo. O Bem para você pode ser o meu Mal e
vice-versa. Por egoísmo ou não, por justiça ou não, há sempre dois lados de uma
mesma moeda, duas vertentes de um rio, duas páginas completamente diferentes de
uma mesma história. Se você pensar com clareza e procurar mais exemplos
parecidos com estes vai ver o que eu consigo enxergar. Ninguém é “Bom” ou “Mal”
por completo, há pessoas e conflitos de interesse, e os meios pelos quais
atingir estes objetivos finais.
Logo não há necessidade de um Céu
ou de um Inferno, aonde as pessoas vão para receber a Graça Eterna por terem
sido “completamente bons” a vida inteira ou receber a Danação Eterna por não
terem abdicado dos seus objetivos e terem feito de tudo para alcançá-los, mesmo
que aos olhos dos outro os meios pareçam errados e sujos. Mas quem define o que
é errado e sujo? Onde isso surgiu e por que surgiu? Há quem diga que fazer o
Bem é se sacrificar. É por em jogo tudo aquilo que lhe importa e abdicar de
tudo isso pelo Bem do próximo. Sim, de certo modo a sensação de levantar da
primeira cadeira do ônibus para uma senhora de idade sentar-se é realmente
gratificante, mas isso vai realmente garantir seu lugar no Céu se ontem mesmo você
estava numa festa bebendo tudo o que podia e beijando milhares de bocas
desconhecidas ou falando mal de alguém há alguns minutos atrás com a sua amiga
na parada de ônibus?
Não há porque se arrepender, não
há porque se condenar. Tudo é muito natural, as coisas simplesmente acontecem
da maneira que devem acontecer e nada nem ninguém é capaz de interferir no
curso da história. Se você fez o “Mal” um dia, pode crer que aquilo foi
necessário para ensinar alguém a aprender uma lição da vida ou você mesmo a se
tornar uma pessoa diferente. O “Bem” e o “Mal” são necessários para que
possamos definir uma criatura como humana, porque esses conceitos são
RESTRITAMENTE humanos.
Ou você acha que um leão na
África sente dó da gazela que está abatendo? Aquilo foi necessário para suprir
a necessidade dele e da família dele. A gazela com certeza deixou para trás uma
vida inteira de possibilidades e ensinou as outras a ouvirem e verem melhor de
modo a evitar que mortes como aquela aconteçam outra vez. O que geraria o mal da
família de leões: se todas as gazelas começassem a ficar espertas demais
simplesmente não haveria alimento!
Aí você me diz que eles são
apenas animais e não possuem “discernimento”.
Ora, você também é um animal.
Você é feito de carne, ossos e órgãos e veias e sangue assim como eles, o que
difere vocês é o tamanho do cérebro feito para pensar e medir consequências. Um
cérebro que vai lhe ajudar a perceber que o “Bem” e o “Mal” são necessários
para fazer o mundo humano girar e se manter em constante movimento.
Bom, e é por essas e outras que
não, eu não acredito em Céu e Inferno. Pra onde irei quando eu morrer então?
Bom, deixem que a hora chegue para que eu possa ver de perto o que há do outro
lado, – porque algo deve haver, isso é elementar – é claro que eu não vou poder
logar no blogger e postar “HEEEEY PESSOAL, CHEGUEI DO OUTRO LADO, E VOCÊS NÃO
VÃO ACREDITAR!”, o que é uma lástima. O que há de vir, virá, e eu não temerei.
Posso não acreditar no deus à
maneira cristã. Mas acredito em forças, forças antigas, forças que já tiveram
muitos nomes, outras que permaneceram no anonimato. Existem forças olhando por
nós, várias que unidas formam uma só. Nada é por acaso, há um motivo pra tudo e
eu acredito nisso!
Esse blog não tem como objetivo
começar uma revolução espiritual ou lavagem cerebral, longe disso. Lembrem-se
que eu sou só um rapaz de 19 anos em constante evolução e descoberta, e essa é
só mais uma página do meu ensaio sobre as descobertas que faço ao filosofar
enquanto tomo banho, e esta aqui é apenas uma página da minha mutante opinião a
respeito do mundo que me rodeia.
Antonio Fernandes
=^.~=
Lindo, ó. Suas ideologias foram contadas de forma tão abrangente e verdadeira. Sim, faz um sentido muito imenso, eu mesma concordo que "bem" e "mal" de fato não existam. São apenas pessoas lutando pelo que acreditam.
ResponderExcluirSou evangélica, e muita gente acha que tenho mente fechada por minha escolha de religião, acho triste esteriótipos, é exatamente tudo que eu evito. Deprimente julgar os outros por aparentemente fazer parte de um grupo, raça, ou uma simples escolha que fez na vida.
Obrigada por compartilhar seu pensamento, amo esse conflitos *-* respeito completamente, muito digna sua opnião sabe :3
Raehli Hage
o céu existe.. e o inferno também.
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