Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

domingo, 17 de maio de 2009

Aventura ou Desventura? - The Apocalipse Club

Após o desastroso desfecho causado pelo artigo anterior “Diferença Social Começa na Família”, que por um acaso rendeu um abalo familiar “daqueles” envolvendo telefonemas furiosos, pais injustiçados e irmãs agredidas pela verdade, confrontei minha primeira crise como jornalista. Me foi exposto o pior lado desta profissão: o simples fato de que NINGUÉM gosta de ouvir verdade.
A verdade... Algo tão correto, mas tão agressivo. Fazer o quê? Não posso desistir da minha profissão, jamais, e me desculpem Pai, Mãe e Irmã, nada posso fazer se apenas escrevi o mantra que repito todo dia desde que eu acordo até a hora de dormir. De fato, esqueçamos este episódio deprimente e seguemos adiante, porque é pra frente que se anda... Ou você é caranguejo para andar de lado? ;D.
Bem, a última sexta-feira (15 de maio) rendeu bastante, até demais. Entre brigas de irmãos, “Ômegas Masters” e tropeços na esquina da casa do Pedro, fugimos da aula do Lúcifer à tarde e partimos para o Anime Club, descendo para o centro feito manada, tivemos de ir acordar o Pedro para irmos até lá, porque ele fez todo mundo vir de tarde e resolveu faltar. Como ele mora na outra rua, foi muito fácil ir lá perturbá-lo para descermos até o centro da cidade como um sexteto de retirantes vestidos de laranja, que é a cor do nosso pavoroso uniforme. Convenhamos, aquela blusa me engorda completamente ¬¬’’.
Falando em gordura, pois o Jorian, na aula dele de tarde não sentou do meu lado só pra dizer que eu ganhei peso? Dizendo ele que o meu rosto tinha ficado mais redondo, que eu tava mais forte... É claro, eu tô crescendo! Ou ele se esqueceu de que eu tenho 16 anos e ainda tenho mais dois para crescer um pouco mais? Professor que se mete na vida de aluno é foda. Toda vez, desde a oitava série, ele só fala comigo pra dizer que eu engordei ou pra perguntar como vai o meu pai, já que ele está à par de toda a situação do Vale do Jarí e tem um interesse demasiado na condição financeira dos pais de certos alunos, como costumam dizer alguns amigos meus do 1º ano, e realmente, eu já havia percebido isso. Opa, falei verdade de novo, e isso vai dar cagada! Ah, tanto faz, é do Jorian mesmo...
Voltando ao assunto do nosso passeio na tarde de sexta, foi uma experiência bem interessante, é sempre muito bom estar com os melhores amigos, e desta vez não havia Erick algum para cortar o clima de amizade. Não ocorreram brigas o percurso todo, e foi tudo risos e piadas até a Fabíola ter uma crise de arrependimento e querer voltar quando alcançamos o Parque do Forte. A garota quase chorou. E pra completar, quando descíamos para a parte baixa do parque, que fica diante do Supermercado Yamada, o Gabriel teve um surto de raiva quando decidíamos se sentávamos nos “morrinhos” ou caminhávamos à beira do rio.
- Você pode ir passear por onde quiser, pois eu vou voltar para casa! – desse jeito mesmo, todo formal. A frase saiu tão formal e direta que foi quase um soco. Quase não, foi um grande soco. E eu comecei a suspeitar de que ele vinha ensaiando dizer isto desde que saímos da escola, todo mal-humorado e direto do jeito que ele é.
- Papai falou para voltarmos juntos! – gritou a Tchuruleff (qüinquagésimo-sétimo apelido da Fabíola) quando o Gabriel já estava relativamente longe.
Não me lembro dele ter respondido algo, mas se respondeu, deve ter sido parecido com isso:
- Não estou nem aí!
E forçamos Fabíola a ir com ele, para que isso não rendesse mais problemas do que já rendera até agora. Ela foi triste e sem vontade atrás deles, e eu particularmente fiquei preocupadíssimo com aqueles dois. Fabíola daquele jeito estourado, confuso e ingênuo dela, e o Gabriel todo violento, sério e explosivo dele... Duas mini-feras perdidas no comércio suspeito de Macapá certamente ocasionariam numa desgraça.
Depois de eu e Rayanne observarmos eles sumirem de vista entre os passantes e os corredores da calçada branca às margens da grama verde sob o céu nublado, ficamos com um enorme peso na consciência por deixarmos irem assim, daquele jeito.
- Gente, eles são nossos amigos, um pouco doidos, confusos e anormais, cheios de dilemas desconhecidos, mas são nossos amigos – eu disse para a cara confusa do Pedro e para a cara de desgosto da Bia. A Rayanne eu sabia que viria comigo atrás da Fabíola que é tão amiga dela quanto eu. – tenho certeza de que eles não nos abandonariam em momentos difíceis!
Não foi muito difícil achá-los. Fabíola já estava praticamente chorando quando os encontramos margeando o sujo canal próximo à Magazine Brasília em meio ao caos do trânsito, dos vendedores ambulantes e dos pedestres, com o vento açoitando suas marias-chiquinhas e seus peitões descomunais para uma garota de 15 anos daquela estatura. Um perigo deixá-la solta daquele jeito. Tão sensível, chora por qualquer besteira, e já imaginávamos encontrá-la desolada como estava, e ela ficou muito feliz ao nos encontrar novamente, revelando a mim que por um momento pensou:
“Que tipo de amigos são esses que te jogam como se fosse lixo no meio de um lugar desconhecido? Que te mandam ir embora sem ao menos tentar ajudar?”
Ah, e ela também confessou que, em um momento de desespero, chegou a apertar o peito de uma mulher desconhecida na parada quando a mesma disse que ia pegar o ônibus para o bairro Jardim, sendo que Fabíola tinha de pegar o que ia para o Zerão. Eu ri tanto quando ela disse isso que quase morri do coração. E depois de andar mais um quarteirão subindo de volta à escola, em meio às risadas, eu vi que do outro lado da rua, diante de uma grande loja de pneus daqui de Macapá da qual eu não lembro o nome, o ônibus Buritizal-S.Camilo, o meu ônibus, parou. Nem consegui me despedir direito do pessoal, porque atravessávamos a rua movimentada em meio às buzinas de forma perigosa, e eu não podia perder esta chance de ir para casa sem ter de esperar muito, e na pressa subi ao coletivo sem pensar duas vezes. Só deu tempo de ouvir a Bia gritar:
“Bum e o ônibus!” e eu me virei para rir.
Mal eu sabia que caminhava para a morte!
Quando dei por mim, o ônibus tinha passado o conjunto Laurindo Banha e tinha se embrenhado nos becos e ruelas do perigosíssimo bairro dos Congós. Esconderijo de traficantes e assaltantes! Acreditam que o ônibus passou o Ciosp? Nessa hora eu já tava com o coração na boca porque era chegada a parada final do ônibus: o terminal. E olha, fazia um bom tempo que isso não acontecia comigo. Só havia acontecido duas vezes: uma quando eu morava no bairro Universidade e outra quando tinha acabado de mudar para o Buritizal, e todas as vezes eu fui parar no Pacoval!
Agora imaginem, EU, daquele tamanhão todo, agarrado à minha mochila fitando todas as cadeiras vazias diante de mim, dentro do ônibus. Cenário desolador!
E disque quando eu vi, passei a esquina da casa da Bia! Deu tempo de olhar pra rua paralela à asfaltada e dar tchau para os muros altos da fortaleza onde reina Irene Albarado com mãos de ferro.
É, foi um grande pesadelo. Mas foi fácil voltar pra casa, foi só subir no próximo ônibus, o das 6:27 sob o olhar suspeito de dois homens estranhos e um com cara de macaco. Eu tinha certeza de que se a porta daquele negócio não abrisse naquela hora, era tchau celular da Iêda!!! Os dois homens na verdade eram moleques, talvez da minha idade, parados do outro lado da rua um do lado do outro, só me olhando, acompanhando cada movimento eu enquanto o outro com cara de macaco se postava do meu lado. Não sei se eram assaltantes, podia ser alguma paranóia minha sobre estar perdido lá pras bandas do Novo Buritizal após ter ouvido anos de histórias verídicas sobre assaltos naquela área. Não podemos suspeitar dos outros indevidamente.
Quando cheguei, estava sujo, fedido e com sérios traumas psicológicos que foram superados com um bom copo de coca-cola, biscoitos de castanha e um rápido telefonema à Rayanne que contou detalhes da volta à escola. Gabriel voltou bufando, soltando fogo pelas ventas enquanto a Fabíola segurava o choro. Pedro mandou ele parar com aquilo, mas ele só virou pra trás, olhou feio e apressou o passo a frente do grupo. Ela acrescentou mais um detalhe sobre uma parada em algum lugar para assistir televisão, mas não entendi o nome do lugar. Mamãe, como sempre, pacifista, riu da situação quando contei para ela e achou tudo aquilo nada demais. Mamãe é acostumada com este tipo de coisa, eu não. Mas logo acostumo, ela vai me ajudar com isto.
Ah, eu e Rayanne achamos o nome perfeito para o nosso grupinho formado por pessoas nada normais que simplesmente tem nada a ver umas com as outras, mas mesmo assim mantêm uma amizade muito mais forte e verdadeira do que a amizade mantida por pessoas que tem absolutamente tudo em comum:
The Apocalipse Club.
Porque todos nós passamos por um Apocalipse pessoal, e saibam que após o Ragnarök o mundo sempre renasce =).
Espero que este artigo não vá dar confusão.
Espero mesmo.

Mande lembranças aos seus avós ;x
Antonio Fernandes.

(Aguarde o próximo capítulo de The Fake e o relato completo da visita da nossa turma à Usina Paredão. Estou com medo de ter escrito alguma coisa que vá acarretar mais confusão.)








(foto 1: da viagem/foto 2: a briga foi um erro.../foto 4: anime Tsubasa Chronicles que eu odiei o final/foto 3: Fabiola em seus trajes de serva XD kkk)

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